Voga

O plano de destruição muscular ficou com o rapaz – consistia na diária puxação de ferros durante seis horas. À moça veio a promessa esquelética das passarelas midiáticas.

Era o casal mais lindo da cidade.
Agora sim, com certeza.
Ele, comendo feito um porco, ingerindo o triplo de proteínas necessárias a sua sobrevivência, ameaçava estourar a justíssima camiseta pólo todas as vezes que movia os braços ou respirava.
Ela, vomitando água, pesando poucas gramas, só pele, ossos e algumas veias verdes na epiderme pálida, voava com estilo, buscando ouro e glamour, tal qual seu namorado.
Naquela festaapenas outra referência externa para alimentar a loucura – eles roubaram, com enorme sadismo, todas as atenções, ofuscando até os convidados mais ilustres.
Queriam uma cura para os traumas de infância – o magricela excluído, a gorda ridícula – e conseguiram, através de um corpo perfeito. Encontraram a droga cicatrizante para as feridas da alma.
Todo dia, em frente ao espelho, enxergavam a maldade. E a maldade chamaria a depressão e o suicídio combinado, caso fossem feios.
Não podiam voltar à marginalidade do status social. A mesmice seria um orgasmo seco, broxamento insonhável para aqueles que se habituaram a gozar entre os holofotes e a morte.
Aquela ambição teve o seu preço.
Ele é vigoréxico; ela é anoréxica.
E representam um ideal estético.
Estão no caminho certo. Pude ver na admiração coletiva.

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