Luz

Num primeiro instante, pelo início o fim já era conhecido. Naturalmente, pensei em desistir. Antes da conclusão, o espírito negro surgia com ósculos calculistas, carícias contestadoras e sugava mecanicamente todo o líquido místico e oleoso pertencente a mim. O fracasso havia sido injetado em meu corpo, e da forma mais cruel. Acreditando em meus sonhos, ainda assim deixei a criatura sinistra destruí-los.

O mar eufórico no qual flutuava, rico de ilusões, desejos, ingenuidades puras da juventude, foi contaminado pelas substâncias perniciosas daquele engenhoso mestre perverso. Ele saturou as águas virgens do meu divino estágio espiritual com tonéis de dúvidas, incertezas, perguntas complexas. E minha límpida alma escurecera.

Durante muito tempo aquele mar foi secando. O calor do medo fez as águas sumirem, juntamente com o espírito negro. Agora estou aqui, totalmente perdido, sem esperanças, dentro de um buraco sem vida. Já não consigo sonhar, já não consigo acreditar nos alicerces invisíveis que a ciência desconfia. De tanto ler, acabei cegando a intelectualidade de inexplicável certeza que todos nós temos, e que eu tinha.

A fé é o combustível de qualquer pensamento. A minha foi geneticamente alterada com tanta poluição. Eu a perdi. Preciso me hidratar.

Nenhum comentário: